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Fotografia

sábado, 4 de abril de 2009

A documentação fotográfica na segunda metade do século XIX

Segundo Kossoy, a documentação fotográfica deste período deparava-se com diversas dificuldades, inerentes ao transporte de pesados equipamentos e das limitações dos processos fotográficos. Portanto expedições de toda ordem fossem geográficas, geológicas, etnográficas
exigiam muito dos fotógrafos, os quais perpetuavam fatos contemporâneos através da imagem fotográfica.
Roger Fenton (1819-1869), fotógrafo inglês documentou em 1855 vários aspectos da guerra da Criméia e Mathew Brady (1823-1896), juntamente com uma equipe de fotógrafos, a guerra da Secessão nos Estados Unidos. Roger Fenton e Mathew Brady foram pioneiros em documentações mais distantes e longas, utilizando-se de diligências ou carroças adaptadas e equipadas com os materiais necessários.


Marcus Sparling sentado em uma Carroça Fotográfica, Criméia, 1854
Roger Fenton, 1819 - 1869, um fotógrafo e seu laboratório móvel.

A documentação fotográfica no passado constituía-se numa atividade geralmente desempenhada por fotógrafos contratados por instituições oficiais, mas desde a invenção da fotografia, surgiram os diletantes atraídos em registrar o real através do novo meio de expressão.
Muitos editores perceberam um mercado latente em determinados gêneros da documentação e passaram a se interessar pela comercialização das vistas fotográficas, o que motivou alguns fotógrafos a optarem e se especializarem nesta área. Tal possibilidade de comercialização se concretizou, após o advento do colódio em meio a uma larga e interessada audiência, que desconhecia a fisionomia de outros povos, seus costumes, arquitetura e outros aspectos, e cuja iconografia respectiva lhes fora até então, transmitida pela tradicional representação pictórica.

Além da reprodução de cópias avulsas de vistas fotográficas para venda ao público, foi na publicação de álbuns ilustrados com litografias ou xilografias reproduzidas através da fotografia estereoscópica que a documentação encontrou o seu grande suporte comercial.
Dentre as possibilidades de entretenimento, pode-se afirmar que as imagens fotográficas vistas pelo estereoscópio constituíram um passatempo sem precedentes. A presença de um visor estereoscópico era de tal modo popular, que passou a se integrar como um objeto típico de decoração.

O estereoscópio consolidou a forma mais real, até então existente, de viajar pelos pontos mais afastados da Terra. A observação das imagens fotográficas através do visor estereoscópico causa no espectador uma ilusória sensação de realidade. E tal sensação é baseada no fato de que as imagens que vemos, quando fixamos o olhar em um objeto, serem ligeiramente diferentes em cada olho. Pela fusão destas duas imagens em nosso cérebro é que da a sensação de relevo, profundidade e perspectiva.
Apesar do princípio para a obtenção de imagens em terceira dimensão ser conhecido ainda antes do aparecimento da fotografia, a introdução desta nova forma de representação real só encontraria sua aplicação na época em que o processo colódio encontrava-se bastante desenvolvido.


Cartão estereoscópico. "ìndios Cayenganga." Fotográfo anônimo, 1896.

A produção comercial de vistas estereoscópicas no período do daguerreótipo não tinha sentido em função da sua não reprodutibilidade. Imagens estereoscópicas pelo processo do daguerreótipo eram utilizadas também em retratos e outros interesses particulares.
Vários tipos de visores estereoscópicos foram introduzidos e aperfeiçoados a partir de 1850.
As vistas estereoscópicas foram introduzidas nos Estados Unidos por volta de 1850. Na década de 1860, a popularização das vistas estereoscópicas era um fato. Com um mercado consumidor assegurado, as expedições fotográficas tiveram um enorme impulso, e os fotógrafos passaram a levar em seus trabalhos de documentação, além do equipamento convencional, câmaras especiais para vistas estereoscópicas.
Por volta de 1861-62, fotógrafos da
Amateur Photographic Association encontravam-se no Brasil, documentando cenas 'pitorescas' e vistas do Rio de Janeiro para a reprodução de cartões.
Na prática, uma placa estereoscópica consiste de um par de cópias fotográficas positivas de um mesmo assunto tiradas de dois pontos de vista ligeiramente diferentes, correspondentes à distância interpupilar. No primeiro caso as imagens eram coladas sobre um cartão rígido e no segundo obtidas em vidro. Colocadas no visor, as placas produzem no espectador a ilusão de realidade.
As imagens vistas pelo estereoscópio permitem ao espectador uma aproximação maior com a realidade palpável do que aquela resultante da fotografia comum.

NOTAS SOBRE OS PRINCIPAIS FOTÓGRAFOS DOCUMENTARISTAS. DOCUMENTAÇÃO URBANA E EXPEDIÇÕES.

Assim como ocorreu no período de 1840-50, a documentação fotográfica no Brasil continuaria sendo exercida nas décadas seguintes pelos fotógrafos estrangeiros em sua quase totalidade.
Em 1859 e 1861, Ben R. Mulock documentou o andamento das obras da construção da estrada de ferro da Bahia como contratado da firma John Watson. Esta documentação deu origem a um álbum.
Mulock não se deteve apenas nos detalhes construtivos da ferrovia,, fotografou também aspectos urbanos de Salvador.
O francês Victor Frond notabilizou-se por sua série de vistas do Rio de Janeiro e do interior da província, bem como da Bahia. Sua obra fotográfica se tornou conhecida através das estampas litografadas. Tratam-se de vistas marinhas, urbanas e rurais, de grande valor documentário e estético.


"Ancien Collège des Jésuites à Bahia". Salvador. 1859. Litografia por Benoist, obtida a partir de uma fotografia de Victor Frond.

Marc Ferrez chegou ao Brasil em 1816 como membro da Missão Artística Francesa. Em 1859 iniciou seu contato com a fotografia.
Em meados da década de 1860, já se encontrava estabelecido por conta própria, dando início a uma longa e atuante carreira voltada para a documentação, o que o tornaria um dos mais importante fotógrafos do Brasil do século XIX.
Ferrez foi provavelmente o primeiro fotógrafo no país a se especializar em vistas panorâmicas com chapas de grande formato.
Fotografou em diversas províncias do Brasil, registrando vistas, tipos e costumes, que deram origem a diversos álbuns.
Em 1866, Otto Niemeyer documentava aspectos da Colônia D. Francisca, instalada em terras concedidas pelo príncipe de Joinville. Suas vistas são excelentes fontes de estudo da influência da colonização alemã no sul.


"Costume du chef indien Jauapiry". Marc Ferrez.

Em 1862, Militão Augusto de Azevedo realizava uma série de vistas da cidade de São Paulo. Nesta época Azevedo iniciava sua atividade profissional no estúdio de Carneiro & Smith.
Esta documentação daria margem a um estudo comparativo realizado posteriormente pelo próprio Azevedo no momento em que este encerrava as atividades do seu tradicional estabelecimento na rua da Imperatriz.
O
Álbum comparativo da cidade de São Paulo corporifica a preocupação documental de Azevedo.


"Rua Alegre" São Paulo, vistas tomadas em 1862 e 1887. Militão Augusto de Azevedo.

O álbum compõe-se de uma série de vistas da cidade, tomadas nos mesmos locais e sob os mesmos ângulos num intervalo de 25 anos.
Parecem ser da mesma década de 1860 as fotografias de Bossi tiradas no Mato Grosso.
Através do diário de Louis Agassiz, tem-se a exata idéia do papel notável que teve a fotografia na documentação das atividades científicas empreendidas pela expedição norte-americana por ele comandada ao interior do Brasil em 1865 e 1866.
Vários fotógrafos contribuíram com seu trabalho nesta expedição.
Como já foi assinalado, a comercialização de vistas fotográficas de paisagens, encontravam amplo mercado na Europa, e nesse sentido, Leuzinger demonstrou ter em sua época uma visão deveras perspicaz em relação a possibilidade comercial das vendas.
Georges Leuzinger chegou ao Rio de Janeiro em 1832, onde iniciou sua vida comercial junto à casa de comissões e exportações de seu tio.
Outro exemplo de documentação fotográfica no interior do Brasil foi o da remoção de transporte do meteorito. Tal projeto surgiu por iniciativa da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, que salientava a importância de trazer ao Museu Nacional o meteorito, descoberto por volta de 1784 em Bendegó, Monte Santo, no sertão da Bahia.
Fizeram parte da direção da comitiva José Carlos de Carvalho e os engenheiros Vicente José de Carvalho e Humberto Saraiva Antunes. No relatório desta expedição tem-se todo o histórico da longa e árdua empreitada da remoção e transporte em suas várias etapas, fartamente ilustrada com fotografias. Como não se menciona o nome do fotógrafo é muito provável que esses registros também tenham sido feitos pelo membros da expedição.


Meteorito Bendegó. Fotógrafo anônimo. 1888.

Num trecho do relatório, o chefe da comissão, manifesta-se quanto as dificuldades do transporte.
Outra documentação fotográfica digna de nota foi a das atividades militares da guerra de Canudos na última década do século passado.
Não existem cenas de combate fotografadas. Apenas uma das fotos surge uma 'posada' cena de ação.


"Prisão de jagunços pela cavallaria". Fotográfo anônimo. Canudos, Bahia, 1897.

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